domingo, 5 de setembro de 2010

1972


Eu nasci em 1972. Ainda pássavamos, nós brasileiros, pelos anos da ditadura militar. A guerra no Vietnã ainda demoraria mais três anos. Nesse ano aconteceram as Olimpíadas de Munique, na Alemanha.
Lembro bem que na minha infância era rara a casa que tinha telefone e televisão.
Na casa dos meus avós maternos tinha telefone. Um aparelho gordinho e preto. Eram apenas três números. Lembrava até um dia desses quais eram. Depois passou para sete dígitos. A oferta e a procura aumentaram. Cresceu mais um número, os telefones passaram a contar com oito dígitos. Recebemos em Arcoverde mais outro prefixo o 3822. Com frequência lá ia eu para a casa dos vizinhos, dar recados ou chamar as pessoas a atenderem ligações de parentes que se encontravam distantes. Tinha dias que eu bem que andava...
Na minha casa tinha uma televisão colorida. Meu pai construiu nossa casa em cima da casa dos meus avós. À noite, depois que eu assistia a programação, descia e ia informar qual a cor do vestido de fulana, pois a televisão da casa da minha avó era preta e branca.
Falar do passado para mim é como pegar uma coberta e aquecer os pés frios. Não que não anseie ou não planeje o futuro. Mas é que aquilo que já experimentamos e nos causou conforto nos faz repetir, relembrar. O desconhecido abre as portas para novos caminhos. A recordação nos traz de volta a nós mesmos. Traz de volta aquela situação que escolhemos não esquecer.
Como vivemos em comunidade, fiz e faço parte da história de vida de outras pessoas. E fico pensando onde fui junção e quando servi de ruptura. Deixei minha marca. Fiquei marcada. Um marco é um ponto. De partida ou de retorno.
Estou caminhando. Mesmo agora quando estou parada, escrevendo. A estrada me leva, ainda que por vezes eu não queira ir.