quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Estatura

Sempre fui a mais alta da minha turma. Com 13 anos eu já tinha crescido quase todo o meu tamanho. Tenho 1,78m.
Na minha infância eu adorava dançar quadrilha. O único problema é que muitas vezes não havia o cavalheiro que fosse mais alto que eu, ou pelo menos da minha altura. E ficava eu lá, emburrada: com menino mais baixo que eu, eu não vou, professora!
Outra coisa, acho que meus braços cresceram primeiro do que o resto do meu corpo. É engraçado de contar mas não foi engraçado de viver: não usei blusa sem mangas por um bom tempo. Eu era muito magrinha e aqueles brações, pareciam não serem meus.
Gosto de ser pontual nos meus compromissos por dois principais motivos: o primeiro porque o certo é certo. Se marcamos para às 19h por que motivo só começar a reunião às 20h? O segundo: numa reunião social, as pessoas vão chegando, se acomodando e se confraternizando. A impressão de chegar depois é de que todas aquelas pessoas notarão a sua chegada. No fundo, no fundo, sei que não estão a espreitar os meus passos. Talvez seja resquício de uma infância na terra dos gigantes.
E é engraçado como podemos ser discrepantes dentro de nós mesmos.
Não gosto de ser o centro das atenções mas gosto de ver e de ser vista.
Explico.
Os carros hoje em dia tem seus vidros revestidos por uma película que por vezes atrapalha a visão até mesmo do lado de dentro do veículo.
As casas têm muros tão altos que conseguimos ver apenas suas cumeeiras.
O carro em que ando é assim. E a casa onde moro também.
Tudo bem que o mundo em que vivemos praticamente exige que busquemos mais privacidade e menos insegurança. Mas convenhamos, uma casa com uma varanda não é um convite a entrar, sentar, conversar e tomar um café com chapéu de couro (broa de milho)?
Os vidros fumê diminuem a temperatura interna e ajudam na hora de namorar e ponto final. Como é que posso cumprimentar meus amigos e conhecidos se não os vejo se estou fora do carro e se eles não me vêem se estou dentro do carro?
Os avanços revelam retrocessos.
Projetos para depois: construir uma casa na fazenda, com janelas de boas vindas. Só dirigir jeep Willys, pelo menos no verão: sem capota, com o vento e o sol lambiscando meus cabelos.


Bom senso significa ver as coisas por dois prismas: 
a forma como queremos que elas sejam 
e a forma como elas têm que ser.
June Smith