sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Andar de trem

Nunca andei de trem. Queria ter andado no trem de passageiros que tantas vezes vi passar defronte a minha casa. Os vagões vermelhos com a inscrição RFFSA nos seus lados.

Aquelas pessoas nas janelas. Umas sentadas esperando chegar na estação, outras, já ansiosas, de pé, prontas para saltar tão logo fosse possível.

O apito me assustava. Sempre. Mesmo que eu já estivesse aguardando. Lembrando-me hoje da sensação de outrora era como se aquele som tão forte e marcante, que me sobressaltava, saísse de mim mesma.

Quando eu ia resolver alguma coisa para minha mãe, na rua dos Bancos, ia caminhando sobre os trilhos. Equilíbrio. Desequilíbrio. Trilho. Terra. Trilho. Trilho. Terra. Calçamento de paralelepípedos. Minha locomotiva chegava ao destino rapidamente. Os trilhos me levavam.
Dentro de mim há trilhos. Conduzem por lugares que me surpreendem por existirem.

Já ouvi dizerem: fulano conviveu com sicrano tanto tempo e não sabe, ainda hoje, quem é ele.
Grande verdade. Pelo menos para mim. Minha locomotiva traz, também, a mim como passageira. Na viagem vou conhecendo os meus recantos e nas paragens entram e saem pessoas que sentam no banco ao lado do meu.

Queria mesmo ter viajado de trem, me embrenhado no mato sentada à janela. As pontes, a vegetação seca, as flores depois das chuvas de janeiro. Os menininhos me dando adeus, como eu fazia, sentada no terraço. Passar por dentro das fazendas, sentir o cheiro da vida naquele momento.

Mais uma estação. Mais uma estação. E depois de chegar até aonde eu ia, voltar para o meu terraço. Regaço acolhedor: a estação de onde parti.
Atravessar os trilhos e a rua. Seguir em frente no bequinho e comprar o pão - trazido numa sacola de pano.

Esperar de novo, que no outro dia era dia do trem de carga...

Estação de Trem - Arcoverde (PE)