segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Palco giratório

Vamos começar
Colocando um ponto final
Pelo menos já é um sinal
De que tudo na vida tem fim

Com tantos avanços, no último século, em todas as áreas (tecnológica, médica, agrícola, educacional, ocupacional, comportamental...), fica bem claro que há um paradigma: quanto mais velhos ficamos no futuro em que vivemos mais saudades temos do velho que relembramos ter vivido.

Ao tempo em que vivemos uma era quase que urbana, os estudos apontam que uma vida simples faz melhor a qualidade de vida. Morar mais perto do trabalho, ter mais momentos de lazer, viajar para o interior, colocar os pés na água que ainda resta limpa, contemplar o céu sem as luzes da cidade, caminhar pelo aceiro, ver as pequenas florezinhas do mato.

O conforto da água na torneira, do sabão em pó, da máquina de lavar, do microondas, do botijão de gás butano, da internet, dos vôos comerciais, nos remetem a grata satisfação da água corrente do riacho, do fogão à lenha, dos encontros ao redor da fogueira, das visitas vespertinas à casa dos amigos. O velho se faz novo. O novo torna-se-á velho. Um ciclo. É assim que vivemos e que morreremos. Antes de nós e depois de nós. Simples e complicada - a vida.

Nossos avós. Nossos pais. Nós. Nossos filhos. Nossos netos. Talvez bisnetos. Nosso ciclo é curto. Quem sabe se vivéssemos mais tivéssemos mais cuidado com o que nos cerca, com o que deixamos de lado e com o que carregamos em nossas bolsas. Nossas escolhas são mais do que simples decisão.  

Apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais (Belchior).

Passageiros. Destinos diferentes. Transportes diferentes. Mesmo fim igualitário, ainda que o serviço de bordo nos tenha atendido de modos distintos. A viagem a partir do final comum é uma promessa. Um novo ciclo. O ponto final desse capítulo é passagem para um novo episódio. Talvez eu seja a atriz principal. Talvez a coadjuvante. Sei que faço parte do espetáculo e que é um teatro mambembe, um palco giratório.