sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Caderno de caligrafia e tabuada

Caderno de caligrafia. Tabuada.
A minha letra é redondinha, todas as letras ligadinhas umas nas outras. Alguns dizem que é letra de professora. Sei bem que nelas se escondem minhas mestras e minha mãe (que me dizia que eu parasse de mudar de caligrafia, que aquilo era coisa de 'gente sem personalidade ').
Ah! A tabuada. De mais, de menos, de vezes e de dividir. Foi assim que aprendi. Estudei para as arguições de dona Antônia. Sim, senhores. Era dona Antônia. Ela era minha professora. Não era tia Antônia.
Tive cadernos de apontamentos, caderno de desenho. Levava tarefa de casa, copiada com letra caprichada. Na sala víamos a matéria nova e revisávamos as antigas. Só havia livro de Matemática e Português. Ciências e Estudos Sociais (Geografia e História) eram anotações extensas, retiradas do quadro de giz.
A professora tinha tempo de olhar os cadernos, reclamar das orelhas de burro que fazíamos nos livros, arguir, fazer ditado de palavras e, pasmem!, tínhamos um tempo livre para as aulas de artes - cada um com sua caixinha.
As caixinhas ficavam guardadas no armário. Eram caixas de sapato enfeitadas por as mães: cobertas de papel de presente ou tecido, com apliques de figurinhas. Buscar a minha caixinha era como resgatar semanalmente um tesouro - caixa de lápis de cor com 36 cores, lápis hidrocor, lápis cera, tinta guache, pincel, cola. Uso com muito zelo, sem estrago - se sobrasse, no fim do ano o tesouro podia ir para casa.
É uma observação rasa, contudo parece-me que a mudança de nomenclatura de professora para tia trouxe uma frouxidão nos procedimentos didáticos. O processo educacional, como qualquer outro processo, é objeto de evolução.
Não podemos negar a democratização do acesso à educação (material didático, inclusão digital, melhoria na remuneração dos docentes, entre outros) mas não devemos fechar nossos olhos à fragilização por que passa o educador no seu papel primeiro de ser ponte entre os alunos e o conhecimento.
Deveríamos ratificar juntos aos nossos filhos e alunos, nós, pais e professores, que o conteúdo apresentado foi por eles apreendido. Não é erro ortográfico. O conhecimento apreendido em nossa mente produz frutos de liberdade: escrita correta, pensamento ordenado, referências geográficas, fácil compreensão, contextualização.
A educação é apontada como ponto de partida para a melhoria de qualidade de vida. Talvez seja apenas saudosismo de minha parte, mas continuo achando que tem alguma coisa que não anda bem nesse mundo globalizado, contextualizado e ao mesmo tempo desconexo.
Como se explica que a balconista, para a minha compra de R$ 11,50, recebendo uma nota de R$ 50,00, tenha de certificar-se, junto à calculadora, de qual deva ser meu troco?
Por onde andará dona Antônia e suas arquições de matemática?