terça-feira, 7 de setembro de 2010

O pardal

Ontem quando cheguei em casa para almoçar minha filha estava com um pequeno pardal na mão. Tinha caído do ninho, no Colégio, e ela resolveu salvá-lo da crueldade momentânea das crianças.
Deve haver uma explicação psicológica para essa atitude infantil. Nunca fui malvada com animais. Um dia porém, joguei sal no olho do gato angorá que tinha na casa da minha avó. Ele correu e eu, cheia de culpa, corri atrás - já morrendo de pena.
Quando somos crianças não tiramos por menos as gordurinhas, a ausência delas, o cacho dos cabelos, a bolsa da moda, a bolsa fora da moda, a altura, a pequenez. Tudo é motivo para observação. Como dizemos aqui, tudo é motivo para mangação.
Toda essa zoação serve para amadurecermos, para endurecermos "o talo". Alguns de nós lida melhor com a situação e entra na onda. Outros, que já são retraídos, se retraem mais. Como tudo na vida, não há padrão cem por cento.
Voltando ao pardal: foi alimentado e guardado num ninho improvisado numa caixa de sapato. Foram todos dormir. Hoje pela manhã o passarinho chegou junto de mim, inerte, trazido por sua salva-vidas. Tinha fugido do ninho e voado para a cama. A fatalidade do virar-se na cama. Fim de linha para o passarinho.
É assim na nossa vida. A fatalidade de seguir, de parar, de ficar, de partir. A fatalidade de viver.
O melhor de tudo é que mesmo estando nosso coração, nossa alma, de luto, o mundo não pára nem por um segundo para contemplar nossa dor. E que bom que é assim. O tempo continua indo para o seu destino e como não podemos ficar, vamos também. E aquele luto que corre em nossas veias se dilue em lágrimas, se mistura com as águas que correm por nossos pés. Afinal, a natureza não transforma a folha seca em parte da árvore novamente?